quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Hoje não vou dormir.

  Hoje não vou dormir. Por que?, você me pergunta. E eu respondo, mas preciso começar do começo.
  Sou uma menina que foi criada por educadores. Cresci lendo Mafalda e acreditando que a educação (crítica) é o motor que pode mudar o mundo. Cresci cercada de livros e pipocada de perguntas. Depois de crescida, trabalhei, e trabalho, com outros idealistas que tentam fazer esse motor funcionar. Por tudo isso, espero muito da educação. Espero o mundo. E por esperar, me decepciono muito com a educação.
  Me decepciono porque, enfim, a educação é um fenômeno humano e, assim, passível de erros. Me decepciono porque vivo no Brasil. Me decepciono porque estou na universidade pública que, no Brasil, é habitat para uma ampla fauna de professauros. Me decepciono porque fui ensinada a ser crítica (chata). 
  Mas hoje não. Hoje voltei para casa com brilho nos olhos, somente conseguindo repetir mentalmente: "Brilhante! Brilhante!". Hoje cheguei em casa com aquele olhar apaixonado que faria minha mãe perguntar: "Quem foi desta vez?". E eu responderia: "Um senhor grisalho, bigodudo e estrábico". 
  Mas não, não foi o senhor, ainda que tenha seu charme, que me encantou. Foram as suas ideias. Ideias subversivas que desaguam torrencialmente, como se fossem a coisa mais natural do mundo. Ideias que dizem: "Vamos virar a educação de ponta cabeça. Assim o mundo acaba virando do avesso". E o melhor de tudo é que, como o próprio deixou claro, ele não é um jovem utópico, mas um sexagenário que fala com conhecimento de causa, de quem já fez acontecer. Um sexagenário que lançou uma faísca nesse motor que  subverte, chamado educação. Pior! Não contente com a faísca, deu uma de Cabral e veio nos ajudar a descobrir o Brasil, lançando uma verdadeira granada nessas engrenagens. 

  Bom, quem se interessar nessa loucura toda vai clicar nos links acima ou procurar mais sobre o gajo que, com 25 anos, criou a Escola da Ponte, acabou com as grades horárias e disse que "aula é inútil e prejudicial". Mas o fato é que o sujeito, como bem disse o mediador da conversa (com sua sensibilidade invejável de J.C. Fernandes), desassossega qualquer um. Desassossega porque mostra que é possível subverter. É possível pensar e fazer diferente. É possível ter alunos que estão aprendendo porque querem e assim crescendo, cognitiva, afetiva e moralmente. É possível criar cidadãos conscientes nesse mundo (há, pós-moderno?) ligeiro e confuso. 
  E aí a gente tem vontade de gritar: AGORA ME MOSTRA COMO! Mas o mediador me iluminou de novo quando perguntou "que tipo de milagre os professores pediam que ele fizesse". Ai me dei conta: ele não vai me mostrar como. Ele não vai resolver meus problemas. Eu não vou ter uma Escola da Ponte pra trabalhar. Eu vou ter que quebrar o coco na parede até pensar em um jeito. Todos os dias. José Pacheco  só fez mostrar a faísca, mostrou o que é possível. Agora? Agora é pensar, agir, errar, repensar, ler muito, pensar, agir... Infindamente (Não será isso educar? Educar-se? Reconstruir-se num ciclo sem fim? ). Agora é nunca tirar essa pulga detrás da orelha, essa que grita que nem tudo precisa ser como é. Agora é que são elas. Ou melhor, agora é que somos nós. E é por isso esqueci  a comida no fogo. É por isso que estou desassossegada, virada do avesso. É por isso que hoje não vou dormir. 

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